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8 de dez. de 2009

O amigo Lombardi

Uma das idéias que eu pretendia lançar neste blog era uma brincadeira mais ou menos assim: "por que você gostaria de ser o Silvio Santos?"

Provavelmente diriam que gostariam de ser para ter dinheiro, ou para jogá-lo ao auditório, ou para poder tirar sarro das pessoas sem que elas se irritem (Silvio Santos tem esse dom)... enfim, são inúmeras as respostas possíveis.

A minha seria: eu gostaria de ser o Silvio Santos para ter um Lombardi.

Você certamente já foi a uma festa chata ou a algum lugar onde não tinha ninguém legal para conversar. Que bom seria se eu tivesse um Lombardi ali na hora, para puxar assunto e contar anedotas enquanto o tempo passa!

Ou no meio da roda de conversa, o assunto está acabando e você pressente que em breve irá se dar um desagradável silêncio sepulcral. Para resolver, bastaria chamar o Lombardi, pedir para ele falar alguma coisa e logo o papo retomaria, animado.

E naquela hora em que a conversa está ficando embaraçosa e constrangedora, ou então quando você acabou de cometer um baita mico e todos estão olhando para sua cara? A solução é gritar "vai, Lombardi", e ele certamente dirá alguma coisa que poderá aliviar a sua barra e ajudar a mudar rapidamente de assunto.

Eu não conheci o Lombardi, o locutor. O lendário escudeiro de Silvio Santos, com quem trabalhou por quatro décadas, sempre narrando os prêmios, os resultados das gincanas, os números sorteados, os reclames publicitários e brincando com o Homem Sorriso da TV, sem se importar em não aparecer nem em ficar famoso ou milionário.

Toda vez que Silvio chamava, fosse para o que fosse e quando fosse, o Lombardi respondia prontamente, e entrava na brincadeira. Ele nunca deixava o Silvio na mão.

É por isso que imaginei o quão interessante seria ter um amigo que agisse como o Lombardi agia na televisão. Alguém que está sempre de prontidão para quando você precisa de uma conversa, de uma palavra, de um conselho. Aquele para quem você pede opiniões e que age até como secretário, pois você o consulta para ficar por dentro das informações. Capaz de sugerir o melhor remédio para gripes e resfriados, o melhor tênis anti-microbiel e a melhor butique para comprar muamba e tomar um guaraná em Nova Iorque.

É um cara tão legal que você faz questão de levá-lo para onde você for. Ele pode até ficar calado o dia inteiro, só observando, mas quando você o chama, ele atende imediatamente, e diz a palavra certa para aquele momento. Ele tem o mesmo timing que você tem.

Esse amigo não se importa em ficar de lado às vezes. Não sente ciúmes de seus outros amigos, namorada, esposa, filhos etc. Sabe que tem o lugar dele, que é cativo, e que nunca irá perder.

Quem o vê sempre do seu lado tão atencioso pode achar que se trata de um empregado, ou então, maliciosamente, cogitar um romance entre "dois viadinhos". Mas não é nada disso. São apenas dois grandes amigos, que se conhecem muito bem e há muito tempo, se gostam e se admiram.

Tudo isso não passaria de um texto bem-humorado em que a interação entre um animador de televisão e seu locutor é transposta para o mundo "real" e adaptada numa relação ideal de amizade. Mas esse Lombardi não existe mais. Morreu no dia 2 de dezembro, e só então o público descobriu não só sua verdadeira identidade, mas seu verdadeiro caráter. O que fazia e como agia fora da televisão.

Um amigo Lombardi eu não tive. Mas Silvio Santos teve, e vai sentir muita falta dele. E nós de vermos essa amizade todos os domingos pela televisão.

Texto publicado originalmente no meu blog Transcendentes.

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