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8 de jul. de 2011

Rua Dona Santa Veloso, 575

Era uma vez um terreno baldio, de várzea de rio, várzea mesmo, dessas que inundam, e não de jogar futebol, ali por onde o Rio Tietê deveria passar, caso não tivesse sido retificado para a construção das avenidas marginais. Foi lá que uma empresa jornalística chamada Folha da Manhã pensou em erguer um galpão de distribuições. Ali, veja só, onde sempre alagava, queriam guardar jornais e materiais perecíveis. Ficava na Rua Dona Santa Veloso, 575, no bairro da Vila Guilherme.

Não tinha nada em volta. Um brejo malcheiroso, logo atrás, seria no futuro a menina dos olhos de um tal Otto Baumgart, que ali construiria o shopping Center Norte e todo um complexo de vendas e exposições.



Mas o futuro logístico com entra e sai de caminhões e pallets não vingou. A Folha virou acionista da TV Excelsior, canal 9, que decidiu que aquele terreno Zona Norte de São Paulo não serviria mais para guardar coisas e sim para produzir sonhos e fantasias: seria um estúdio de televisão.

Quatro estúdios para jornais, novelas e shows, menos auditório, que ficava por conta do Teatro Cultura Artística, desde 1967 passariam a ser produzidos na Vila Guilherme, que também abrigava os depósitos e fábricas de cenários e figurinos, as salas de controle, de diretoria e tudo o mais que uma emissora de televisão precisa.

Aí a ditadura apertou, a Excelsior perdeu seu canal e a Folha da Manhã recebeu um novo inquilino: Silvio Santos, o moço que para aparecer em vez de pendurar melancia no pescoço, resolveu pendurar microfone. E deu certo. Ele trouxe sua produtora para aquele lugar, e começou a fazer filmes (Ninguém Segura Essas Mulheres), comédia (Praça da Alegria) e novelas (O Espantalho), e também um programa seu sem auditório (Silvio Santos Diferente).



Só que esse tal Silvio Santos era danado mesmo, e a produtora dele virou uma emissora de televisão. Então a Vila Guilherme começou a ferver de produções, seus corredores ficaram lotados de artistas, funcionários, gente que vinha assistir os programas. Exceto os grandes auditórios, que eram feitos no Teatro Silvio Santos lá no Carandiru.

Precisaram aumentar as instalações, e mais estúdios nasceram de um prédio ao lado. Era 1981.

Então a água começou a subir. Quase todo verão a natureza mostrava sua força e não se intimidava mesmo com o Otto Baumgart por perto, com todo seu império construído à base de Vedacit. As crianças fugiram da água que invadiu o palco do Bozo. Os jornalistas metiam o pé na lama, dentro do estúdio mesmo ou na rua, pois as notícias tinham que ser dadas, fosse como fosse ou de onde fosse. Em 1987, a Higitec precisou ser chamada para dar um reparo no estrago e ganhou agradecimento durante a programação.

Mas entre tantas dificuldades a enchente era apenas mais uma e o SBT naquele espaço virou vice-líder de audiência, conseguiu conquistar a simpatia do público e da crítica. Cresceu e apareceu.



Só que a TV do Silvio cresceu demais e aquele prédio que seria depósito e virou televisão ficou pequeno para as suas pretensões. O Homem-Sorriso começou a arquitetar de novo um outro velho plano: pegar o depósito do Baú e das Lojas Tamakavy, no quilômetro 18 da Via Anhanguera, em Osasco, e transformá-lo em um complexo de produções de TV.

As obras duraram alguns anos até que o tal depósito virou mesmo televisão, e aí o SBT começou a empacotar tudo para se mudar para sua nova casa. Fecharam-se as portas da Central de Produções do Canal 4 e também do Teatro Silvio Santos, no Carandiru. As pessoas não mais mandariam suas cartinhas para a Rua Dona Santa Veloso, 575, CEP 02090, nem mais haveria filas para caravanas, nem alvoroço nem artistas circulando por lá. O endereço seria outro a partir de 19 de agosto de 1997.

O prédio antigo, seus corredores, suas escadas, as plaquinhas de "silêncio, gravando", tudo se tornou inútil depois que o SBT desocupou a área e entregou as chaves à Caixa Econômica Federal, que se tornara a dona após receber a propriedade da Folha.

Também as enchentes acabaram pois na mesma época um piscinão foi construído acabando com o sofrimento dos moradores da Vila Guilherme. Puxa, até as enchentes foram embora!

Em 2001, um novo proprietário finalmente chegou para dar vida àquele lugar. O silêncio e o vazio não combinam com ele. A Igreja Bíblica da Paz adquiriu o prédio da Caixa. Mas toda mudança tem um pouco de sofrimento e os novos donos tiveram que dar uma mexida no imóvel, afinal ele não era mais uma televisão. E assim as paredes que eram derrubadas levavam consigo um pouco da história do que aconteceu naquele lugar.

Um funcionário do SBT teve a oportunidade única de testemunhar e filmar a demolição de parte dos estúdios. José Carvalho pôde ver desaparecer o Café do SBT, o posto do Banco Nacional, o estúdio de jornalismo, que deram lugar a um gigantesco templo para 3.772 fiéis. Deu a última e estranha olhada nas salas vazias.



Hoje a Igreja Bíblica da Paz continua lá. As portas de estúdios que não foram derrubadas e o teto continuam os mesmos. Por um daqueles mistérios do destino, o antigo estúdio dos infantis se transformou em sala de recreação para as crianças. A magia, de certa forma, ainda pulsa.

agradecimentos
José Carvalho

8 comentários:

  1. Gente eu cresci com A TVS CANAL 4 SÃO PAULO e suas instalações na Vila Guilherme, Rua dos Camarés, Teatro Silvio Santos, Sumaré, etc. Triste ver essa cena, mas o nosso SBT cresceu muito, e hoje se aloja na Anhanguera. Me lembro até do Tel (21)2649199 acho que era esse! Tempo bom, espero que não façam o mesmo com o Teatro da Ataliba Leonel, serviria como um MEMORIAL do SBT, algo assim. Parabéns Hamilton, e espero que no Especial 30 anos, falem um pouco das primeiras instalações da emissora. Abs

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  2. É um sentimento ambíguo. Primeiro por finalmente conhecer a Central de Produções da Vila Guilherme, que nos foi apresentada apenas em ocasiões como as enchentes. Segundo, a gente que é fã do SBT sente um aperto ao ver esse lugar sendo destruído, mesmo sabendo que a emissora existe hoje em um lugar maior e melhor. Parabéns pelo post e pelas informações. É uma pena, para nós que curtimos TV, em especial a TVS, que hoje seja uma igreja. Concordo com a idéia do memorial no Teatro Silvio Santos.

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  3. O mais curioso é que tem uma dita cuja de uma antena parabólica que está lá, intacta no alto do prédio. É um pedacinho da história preservado! No teatro da Ataliba Leonel, se você olhar pelos vãos da porta de aço, é possível ver as paredes pintadas com o logotipo antigo do SBT! Lá tinha uma placa de vende-se mas o prédio tinha uma pintura externa recente. Me recordo quando interditavam a Ataliba para fazer a banheira do Gugu aos domingos!

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  4. Sou Maxwell, de vez em quando frequento a igreja Bíblica da Paz... o curioso é que mesmo a igreja sendo Evangélica, parece que os pastores quererem preservar um pouco da história do SBT.... As portas que dão entrada para o auditório (agora templo) são as mesmas... o corredor principal também pouco mudou... Quando um culto começa a impressão que temos é que algum programa de TV esta no ar... É incrível como o espírito da TV continua lá!

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  5. VITERI TIVE O PREVILEGIO E O PRAZER DE TRABALHAR NO INICIO DO SBT ANOS 81 PENA QUE FOI POUCO TEMPO, MAS VI MUITOS ARTISTAS,ATORES HOJE APRESENTADORES,LENGRUBER,SILVIO SANTOS CHEGANDO EM SEU CAMARO BRANCO E AS ENCHENTES NA RUA DONA SANTA VELOSO, E O POVO NA TV ONDE AGLOMERA MULTIDOES EM VOLTA DA EMISSORA. SAUDADES

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  6. Saudades desse tempo do SBT na Vila Guilherme. Neanderthal!

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