Na semana seguinte ao incêndio, Silvio Santos comandou seu programa de forma improvisada no palco do Palácio das Convenções do Anhembi. Mas logo teria um novo palco: comprou o Cine Sol, um antigo e decadente cinema de bairro, localizado na Avenida General Ataliba Leonel, 1772, no bairro do Carandiru, não muito distante dos estúdios da Vila Guilherme. Foi reformado e batizado de Teatro Silvio Santos, mas também chamado de Teatro da TVS.
Cine Sol em foto dos anos 60 e Teatro Silvio Santos em foto de 2009. Clique para ampliar

O Teatro aproveitava a estrutura daquela antiga sala de cinema que tanta diversão deu ao bairro do Carandiru. O prédio de 1956, com 1300 m² de área construída, na sua adaptação para estúdio de televisão passou a ter a seguinte configuração: 600 m² de área artística principal, com pé-direito de 12 m, sendo 9 de área útil; 2 estúdios auxiliares de 100 m² cada; 4 camarins (2 foram construídos numa reforma realizada em 1989); lanchonete; cozinha; toiletes e ambulatório. No piso superior estão duas salas administrativas; uma sala de produção, subdividida com divisórias; uma sala da presidência; switcher; central técnica e central de exibição unificadas; toiletes e um elevador adicionado na reforma de 1989.
Os pequenos estúdios auxiliares, posteriormente foram utilizados também como camarins. Ali devia ser a famosa "sala dos milagres", onde as colegas de trabalho que se davam mal na prova do xampu de ovo do Topa Tudo por Dinheiro ganhavam um trato para tirar a meleca.
Estas imagens ilustram a grandeza do palco do Teatro Silvio Santos

Ar condicionado, forração termo-sonora e saídas de incêndio também foram melhorias trazidas em 1989. E em 1993 nova reforma foi realizada para instalação de uma nova central técnica. Em 1994, era a vez das velhas câmeras azuis de tubo plumbicon RCA TK-46 darem lugar às Ikegami HK-377, ainda hoje utilizadas no estúdio 6 do CDT da Anhanguera.
Veja abaixo os croquis do Teatro Silvio Santos, com a indicação de todos os espaços do imóvel, em seu térreo e andar superior. Havia ainda mais um piso, no qual se localizava um terraço para as antenas e a lavanderia. Clique para ampliar.


No térreo está indicada a parte elétrica, que consiste nos rolamentos de ligação de força dos equipamentos fundamentais do estúdio da televisão, como VTs, dimmers, monitores, receptores, caixas, cenários com luzes, etc.
Ainda na parte técnica, o teatro contava com 8 canais de VT, sendo 5 usados pra câmeras (até 1986, eram 4 canais) e duas torres de som mono, condensadas na mesa para obter som estereo, trabalho a cargo dos sonoplastas Aguinaldo de Barros, Alfonso Aurin e Kenji Shibata. O som estéreo só viria nos anos 90, pois na época da instalação dos equipamentos era importado e caro.
Nas fotos abaixo, o repórter José Roberto Rocha mostra o auditório e o caminhão de externas (ENG) utilizado para a transmissão ao vivo no Teatro, que ficava estacionado na rua. Também há um flagrante da grua durante gravação do Viva a Noite e da técnica durante gravação da Praça é Nossa.

Adaptado e pronto para se transformar em palco não apenas para Silvio Santos, mas também para os programas de auditório da nova emissora TVS, Canal 4 de São Paulo, o antigo cinema de bairro com capacidade para 1.514 espectadores, contando platéia e balcão, viu seu balcão se transformar em central técnica de televisão e a platéia transformar-se em 300 moças e senhoras: o auditório mais feminino e animado do Brasil!

Uma das características do auditório era a sua decoração com luzes e círculos formando arcadas. Elas ficavam nos fundos e nas paredes, e eram marca registrada da presença de Silvio no meio das colegas de trabalho. Em alguns programas as luzes eram desligadas ou cobertas por tapadeiras com outros desenhos, como no Viva a Noite e na Praça é Nossa. Nos anos 90, as luzes foram removidas e deram lugar a desenhos geométricos ou a cédulas gigantes de dinheiro, no quadro Topa Tudo Por Dinheiro.

Em dias de gravação ou transmissão ao vivo, desde a madrugada a movimentação era grande nos arredores do Teatro. Ônibus desembarcavam as caravanas nas calçadas, caminhões traziam os cenários da Rua dos Camarés, onde se localizava o departamento de cenografia. Silvio Santos e os demais artistas e convidados entravam pela entrada dos camarins, pela Rua Azir Antônio Salton, uma estreita rua de paralelepípedos. Essa entrada, aliás, ficou conhecida em 1989, pois ali os repórteres ficavam de plantão para tentar entrevistar Silvio na saída das gravações, no auge da campanha presidencial na qual o Homem do Baú era candidato.
Não raras vezes a Rua Azir Antônio Salton e a Avenida General Ataliba Leonel eram interditadas para a realização de brincadeiras na rua. A área externa do Teatro era frequentemente usada em programas como Viva a Noite e Domingo Legal e também por Silvio Santos.
Para se ter uma ideia, o Papai Noel já desceu de helicóptero em plena Avenida General Ataliba Leonel, recepcionado por Gugu Liberato e Bozo em "A Descida do Papai Noel", especial exibido em 1982.
Memoráveis foram os desfiles malucos promovidos no Viva a Noite, as gincanas do Domingo Legal e as brincadeiras do Topa Tudo por Dinheiro. Aqui temos um bom registro de Silvio comandando uma prova do Topa Tudo por Dinheiro na Rua Azir Antônio Salton.
Pode-se ver a parede lateral do Teatro e uma pequena aglomeração de curiosos que teve a sorte de ver Silvio bem de pertinho. Na outra foto pode-se ver ao fundo a padaria Sol, localizada na esquina ao lado do Teatro, e onde funcionários, produtores, artistas e caravanas costumavam matar a fome.


Em 1987 e 1988, a novela Carmem da Rede Manchete levou o Teatro Silvio Santos para além do SBT. Na trama, a personagem Creuza, vivida por Bia Sion, participou do Namoro na TV. Atores da novela fimaram com Silvio Santos no teatro junto de participantes reais e as cenas foram exibidas pela emissora concorrente.
Em 1989, o filme Os Trapalhões na Terra dos Monstros levou o Teatro Silvio Santos às telas do cinema. Cenas de um musical de Angélica ao lado de Gugu, bailarinas e auditório, no cenário do programa Viva a Noite, fizeram parte da história. Angélica fez o papel de uma adolescente que foi cantar no programa e participar do quadro do Sonho Maluco, desejando gravar um clipe com o Dominó na Pedra da Gávea. O Dominó também fez uma performance musical no palco, para o filme.
Uma perigosa aventura se deu quando Gugu e Thalia, acompanhados por um séquito de seguranças e produtores, saíram por uma janela do segundo andar do edifício para a marquise do Teatro Silvio Santos, a fim de acenar para a multidão que esperava ver a estrela mexicana. Por sorte, nenhum acidente ocorreu nessa arriscada experiência.
O SBT cresceu e o Teatro Silvio Santos começou a ficar pequeno demais para as necessidades da emissora. Um antigo sonho começou a se tornar realidade: a unificação das unidades Vila Guilherme, Teatro, Sumaré e Anhangüera em uma só na Anhangüera, com a construção da Cidade da Televisão. Em 1996, no aniversário de 15 anos do SBT, o CDT foi inaugurado. O Teatro Silvio Santos aposentou-se como estúdio de televisão no ano seguinte, com o Concurso de Paródias, apresentado por Moacyr Franco.
Na sua fase final, o Teatro ainda serviu de palco para a estréia de Celso Portiolli. Depois de desativado, o Teatro Silvio Santos foi usado pra testes, inscrições e ensaios. No auditório o velho cenário losangular ainda está montado e as cadeiras estavam todas no lugar, exatamente como foram deixadas em 1997. Isso pôde ser comprovado em 2001, quando Roque foi entrevistado no auditório pelo programa Falando Francamente. No palco, está apenas um cyclorama branco (parede curva que dá impressão de fundo infinito).
Recentemente o site São Paulo Abandonada, que registra prédios antigos na Grande São Paulo clicou o Teatro, mostrando que está bem conservado, inclusive ostentando em seu topo ainda o logotipo do SBT e uma nova pintura azul. Em 2011, o teatro passou a ser utilizado como depósito e loja de saldão do Baú da Felicidade. Com isso, as cadeiras do auditório foram removidas, talvez, para sempre.
VEJA FOTOS RECENTES DO INTERIOR DO TEATRO, AQUI.
O Baú do Silvio homenageia, assim, todos aqueles que trabalharam ou freqüentaram o Teatro Silvio Santos, palco de grandes alegrias e emoções durante os primeiros 15 anos de SBT.
Agradecimentos pelas imagens atuais do Teatro: Douglas Nascimento (site São Paulo Abandonada) Agradecimentos especiais pelas informações técnicas do Teatro: Carlos Guerra Miguel Duboviski Jr. atualizado e revisado em 14.7.2011.