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Talvez o momento de maior emoção daquele programa Show de Calouros foi uma pergunta feita por uma telespectadora em casa. Ela perguntou o nome completo de Silvio. Ele respondeu, sem pestanejar, que se chamava Senor Abravanel. E contou, com a voz embargada, a história de seus antepassados e de Don Isaac Abravanel, seu 15º avô, em linha direta, um dos mais ilustres judeus portugueses do século XV – estadista, líder da comunidade judaica ibérica, filósofo e rabino cabalista nascido em Lisboa, cujos escritos são ainda hoje estudados, e renomado financista na corte de Isabel e Fernando de Castela. Devido a perseguições religiosas, Don Isaac Abravanel mudou-se em precário estado financeiro para a Grécia, apesar de a Coroa espanhola querer sua permanência. "Don Isaac disse não. O povo judeu vai, e eu vou junto", contou Silvio Santos. Nesse momento, o animador fez uma breve pausa e respirou fundo, pois estava a ponto de não se conter e chorar.
Na Grécia, Don Isaac se estabeleceu na região de Salônica, onde a família Abravanel fincou suas raízes. O título Don passou a ser um prenome de família, traduzido para Senor, passando de geração em geração. O avô de Silvio se também se chamava Senor. Em Salônica nasceu Alberto, que imigrou para o Rio de Janeiro, passou a frequentar a comunidade turca e conheceu Rebeca Caro, com quem se casou. Alberto e Rebeca são os pais de Silvio Santos.
Os fatos mais importantes do programa, sem dúvida, foram seus discursos políticos. Como já mencionado, Silvio estava temeroso em encerrar a sua carreira devido ao problema das cordas vocais, e acabava de voltar dos Estados Unidos, onde fizera tratamento e a cirurgia na garganta.
Totalmente só no hospital, Silvio chorou como uma criança, e refletiu. “Chorei porque vi que o povo me dá amor, carinho, tem admiração por mim, se preocupa com minha saúde. E eu o que faço por esse povo? Nada. Palhaçada aos domingos. Será que um homem 57 anos de idade, com maturidade, inteligência, não poderia fazer algo a mais por esse povo? Será que esse homem que tem uma rede de televisão não pode dar um pouco mais para esse povo do que o circo, no bom sentido?”
Sozinho, refletiu sobre si mesmo e fez comparações entre a vida dos americanos e a vida dos brasileiros. A começar pela sua própria condição, de paciente de hospital. "Aqui, antes de entrar num hospital, tenho que passar na tesouraria, e lá, não" - convém lembrar que, na época, o sistema de saúde nos EUA e no Brasil não era dominado pelas redes de planos de saúde. Algumas de suas constatações o deixaram bastante incomodado. "O povo lá trabalha como uma máquina, me fez lembrar aquele filme do Carlitos. Trabalha e tem comida, casa, educação para os filhos, médico, remédio... e aqui, dizem que nosso povo é indolente... mas é melhor não falar nisso"
Perguntado se ele iria pra política, Silvio respondeu: “Caso decida abandonar a carreira artística, estaria sim num cargo público pra dar um pouco de mim, retribuindo todo o amor que meu público me deu nesses 25 anos, e não vou abrir mão de cinco pontos de ação nesse sentido: comida, casa, educação, assistência médica e transportes”.
Mas Silvio foi contraditório. No mesmo programa, disse que se o demônio da política o atacasse, saberia exorcizá-lo. Na verdade, o Homem do Baú, sempre autoconfiante e seguro de si, estava fragilizado e indeciso a respeito de uma possível carreira política, além de se mostrar obcecado pelos cuidados de sua saúde.
E terminou o programa, às onze e meia da noite respondendo à jurada Aracy de Almeida: “Sou um homem que acredita na justiça divina, e que o bem sempre vence o mal. Se o mal vencesse o bem, não haveria razão para viver”. Veja abaixo:
O clássico programa teve uma repercussão enorme no pais todo, além de ter sido líder de audiência, derrotando o Fantástico da Globo, com 30 pontos e pico de 45 pontos. Além disso, a partir de então, os partidos e políticos influentes passaram a ver em Silvio “um novo Messias”, e flertaram com ele para que ingressasse na política. Mas isso é outra história.
Para saber mais sobre esse programa, leia o livro A Fantástica História de Silvio Santos, de Arlindo Silva. Editora do Brasil, 2001.